sábado, dezembro 24, 2005

um poema chamado futuro


Recebi, por email, este belo poema do amigo Jorge Castro e não resisti a partilhá-lo convosco. Obrigada Jorge.


o consumo consome o natal
esse tal que sem sumo fenece
pega em ti - vai até ao quintal
traz laranjas que o sumo apetece
e depois passeando pelo campo
colhe a graça do orvalho maninho
que à luz fria do sol deixa um manto
de onde brota o verdor do azevinho
ou então corre ao mar que transporta
um olhar teu em volta do mundo
que de volta o trará porque importa
mais que azul ser intenso e profundo
logo então bate à porta do amigo
dá-lhe a prenda do teu forte abraço
um sorriso ou o simples abrigo
que de afecto lhe traga esse passo
e depois tu leva-o contigo vendo
a vida que nas ruas passa
o apressado o vaidoso e o mendigo
das castanhas o odor da fumaça
o abandono do gato que dorme
na vidraça que é mais soalheira
e o homem nessa mágoa enorme
de vivência sem eira nem beira
e a calçada pisada tão fria
e as árvores tão nuas da praça
e os amantes que enlaçam o dia
na poalha do sol que os abraça
e um jovem só de sonhos feito
e a moça tão vivaz e bela
e aquele velho de olhar rarefeito
tão perdido só de olhar p’ra ela
e por ser tão intenso e urgente
tão fugaz indelével sublime
nessa areia da vida corrente
cada passo que o teu corpo imprime
num segundo de ardente pungência
cada alento de ti consumido faz do dia
em que estás a premência de seres
tudo o que tens perseguido
e liberto um olhar teu nas nuvens
derrubado do céu cada muro
saberás quanta a força que tens
num poema chamado futuro.


- Jorge Castro