sábado, dezembro 31, 2005

2006

Os meus desejos para o ano que vai começar estão expressos no Estranhos Dias
Se puderem e quiserem passem por lá.
Para vocês, que o novo ano traga tudo o que vos for necessário.

quinta-feira, dezembro 29, 2005

Trago novas de uma antologia de poesia sobre o Natal

Trata-se de uma antologia organizada por Vasco Graça Moura, intitulada: “NATAL....NATAIS”, abrangendo oito séculos de Poesia sobre o Natal.

É uma edição Millennium – PÚBLICO e garanto-vos que vale bem a leitura e este olhar diacrónico sobre os Natais ao longo dos séculos por vários poetas portugueses.
NATAL UP-TO-DATE
*
Em vez da consoada há um baile de máscaras
Na filfial do Banco erigiu-se um presépio
Todos estes pastores são jovens tecnocratas
que usarão dominó já na próxima década
*
Chega o rei do petróleo e fingir de Rei Mago
Chega o rei do barulho e conserva-se mudo
enquanto se não sabe ao certo o resultado
dos que vêm sondar a reacção do público
*
Nas palhas do curral ocultam microfones
O lajedo em redor é de pedras da lua
Raínhas de beleza hão-de vir de helicóptero
e é provável até que se apresentem nuas
*
Eis que surge no céu a estrela prometida
Mas é para apontar mais um supermercado
onde se vende pão já transformado em cinza
para que o ritual seja muitomais rápido
*
Assim a noite passa E passa depressa
que a meia-noite em vós nem se demora um pouco
Só Jesus no entanto é que não comparece
Só Jesus afinal não quer nada convosco.
*
David Mourão-Ferreira

terça-feira, dezembro 27, 2005

Fases que nos marcam


Há muitos anos, tinha a minha filha Ana 13 anos, sentindo a minha angústia de mãe em encontrar a melhor forma de lidar com certas atitudes e comportamentos das 3 filhas (púberes e pré-adolescentes) escreveu num papel
colorido, que me ofertou com um doce beijo, esta frase tão simples e tão sábia (desde bebé que mostrou como era uma criança diferente e sábia) que me tem acompanhado pela vida fora:


«Mãe, não há pessoas excepcionais. Há pessoas especiais.»

segunda-feira, dezembro 26, 2005

Pelas vítimas


do tsumami, das guerras, da exploração, da pobreza,
da arrogância e da indiferença.
Para que mude.

sábado, dezembro 24, 2005

um poema chamado futuro


Recebi, por email, este belo poema do amigo Jorge Castro e não resisti a partilhá-lo convosco. Obrigada Jorge.


o consumo consome o natal
esse tal que sem sumo fenece
pega em ti - vai até ao quintal
traz laranjas que o sumo apetece
e depois passeando pelo campo
colhe a graça do orvalho maninho
que à luz fria do sol deixa um manto
de onde brota o verdor do azevinho
ou então corre ao mar que transporta
um olhar teu em volta do mundo
que de volta o trará porque importa
mais que azul ser intenso e profundo
logo então bate à porta do amigo
dá-lhe a prenda do teu forte abraço
um sorriso ou o simples abrigo
que de afecto lhe traga esse passo
e depois tu leva-o contigo vendo
a vida que nas ruas passa
o apressado o vaidoso e o mendigo
das castanhas o odor da fumaça
o abandono do gato que dorme
na vidraça que é mais soalheira
e o homem nessa mágoa enorme
de vivência sem eira nem beira
e a calçada pisada tão fria
e as árvores tão nuas da praça
e os amantes que enlaçam o dia
na poalha do sol que os abraça
e um jovem só de sonhos feito
e a moça tão vivaz e bela
e aquele velho de olhar rarefeito
tão perdido só de olhar p’ra ela
e por ser tão intenso e urgente
tão fugaz indelével sublime
nessa areia da vida corrente
cada passo que o teu corpo imprime
num segundo de ardente pungência
cada alento de ti consumido faz do dia
em que estás a premência de seres
tudo o que tens perseguido
e liberto um olhar teu nas nuvens
derrubado do céu cada muro
saberás quanta a força que tens
num poema chamado futuro.


- Jorge Castro

quarta-feira, dezembro 21, 2005

BOAS FESTAS 2005


A todos desejo que a vida nos traga tudo o que necessitarmos e mais algumas coisas extra.
Se nos trouxer problemas (inevitável, não é?) que os saibamos olhar e viver como um processo de crescimento e não como obstáculos intransponíveis.
Que demos mais do que esperamos receber e que... aprendamos a nada esperar.

Beijos de luz e paz

sábado, dezembro 17, 2005

Porque hoje é sábado convido-vos

a brincar!

a rir.
a soltarem-se no vento.
no azul do dia...

Mas aproveitem
uma pausa
na brincadeira
e passem
no Orgia Política
e
façam o favor
de ser felizes!
Tenham
um bom sábado.

sexta-feira, dezembro 16, 2005

Portuguêsmente


Eis como fica o comum cidadão português depois de seguir os debates (desculpem lá, mas chamam-lhes assim!).

Precisa de se distanciar - muito - de procurar mundos alternativos onde encontre uma realidade....REAL!

Depois deste intenso (e fechado) período de reflexão veremos o que resulta.

Uma dúvida existencial é: ainda terá (teremos)a cabeça nos ombros quando terminar(mos) de reflectir?
Porque, acreditem, nestas alturas revela-se um contratempo.
Mais fácil decidir sem ela....

quinta-feira, dezembro 15, 2005

Chamem-me lamechas. Não me importo!

Verdade!
Podem achar-me e chamar-me lamechas.
Até porque ás vezes sou. E quando sou, sou muito. E sou-o com alegria e contentamento.

Hoje, para vocês uma expressão de carinho..



quarta-feira, dezembro 14, 2005

correndo para apanhar, ou fugindo?



O mundo (social e cultural) que construímos é alucinado e alucinante.

Desligamo-nos do planeta, do ritmo da vida e da criação, das estações, do nascer e por do sol e da lua, do ritmo das marés e do pulsar geral da terra-mãe.

Colocamo-nos acima das restantes espécies (animais e vegetais)que connosco coabitam.

Criamos ilusões que transformamos em objectivos de vida e que a tudo se sobrepõem. Até a nós, seus criadores.

Mas ainda assim sentimos esta fome e sede de felicidade. Queremos, a todo o custo ser felizes!

Lembremos então, com N. Hawthorne, que « A felicidade é como uma borboleta que, quando perseguida, está sempre além do nosso alcance, mas que, se nos sentarmos calmamente, pode pousar sobre nós.»

segunda-feira, dezembro 12, 2005

As cartas que escrevemos


Ao longo da vida escrevemos cartas.
Muitas.
Muitas mais do que nos lembramos.
Escrevemos cartas com o pensamento e que só nele ficam e habitam.
Escrevemo-las com símbolos outros e palavras.
No papel. Ou em qualquer outro material onde possam ser impressas.
Impressos os símbolos.
Telas, tecido, madeira, pedras, areia, cal, paredes, almas....e no vento.
Escrevemos muitas cartas no vento, nos ventos...
Todas têm destinatário fixo, determinado. Que à escrita nos levou.
A umas mandamo-las, outras não.
Guardamo-las, ou rasgamo-las.
Podemos ainda queimá-las...
As que enviamos e chegam, a quem devidas, podem ou não ser lidas.
Podem ser lidas mas não compreendidas...
Podem ser compreendidas e o momento ter passado porque a compreensão lhes foi anterior.
A maioria escrevemo-las no pensamento.
Com o pensamento.
E ficam a ecoar em nós.

Bandos loucos de aves soltas turbilhonando as almas....o ser.

Hoje a propósito de todas as nossas "cartas" ofereço-vos este belo poema de Ruy Ventura.

escrevo-te cartas
que nunca irás receber
a morada desaparece
sempre que tentamos encontrar
não uma porta, mas uma casa inteira.
desligo tudo dentro deste quarto.
ouço, incompleto, - com a janela
entreaberta ao fresco da noite -
cada pequeno ruído,
como se fosse um código para nos entendermos.

Ruy Ventura

domingo, dezembro 11, 2005

Ser do contra

Hoje dedico os meus posts à poesia de Jorge Castro, entre nós, neste mundo de convívio tecido entre a palavra e a imagem, sem a presença física, conhecido como ORCA do Sete Mares que há pouco tempo publicou o livro Contra a Corrente.

Ser do contra

E ao contrário de repente

Ser do alto mar na terra

Impertinente

Ser do ar no chão

e consistente

Nada fácil

Viver-se contra a corrente

sábado, dezembro 10, 2005

Olhares interiores e exteriores


No tijolo azul e no rendilhado do arbusto a casa abre o olhar ao exterior.

Ilumina-se e veste-se do oiro do poente.

Na envolvência labiríntica dos troncos isola-se, fecha-se, individualiza-se.

Única e inexpugnável na permanência do ser que se afirma.




P.S - porque hoje é sábado deixei aqui o meu olhar político à vossa espera.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Para lá dos limites


Já. Já se acabaram os limites.
As palavras deixaram os cem por cento de forma.
Esgotaram-se as penumbras dos ângulos forçados
e rebentou-se a máscara dos mistérios falsos.
*
Estamos num mar imenso de estrutura una.
No pântano milenário
que se alarga e alarga como um polvo incansável.
Dentro do lodo e impermeáveis,
em plena realização das maiores aspirações do momento e de sempre.
*
Já. Já se acabou o sacrifício inútil e sem norte!
Já se rompeu a membrana das vontades fingidas
(traída em tudo a condição forçada de fantoches)!
*
É o instante do início.
O sangue encontra-se em cachão
e salta.
O riso não tem mais oposições
e estala.
Abrem-se os braços para o primeiro voo.
Vamos:
Já se acabaram os limites!
*
Mário Dionísio

terça-feira, dezembro 06, 2005

Incompatibilidades no mundo animal? ONDE???


NAIROBI (AFP) - Um filhote de hipopótamo que sobreviveu ao tsunami na costa do Kenya formou um estranho vínculo com uma tartaruga fêmea gigante,

centenária, na cidade portuária de Mombassa. O hipopótamo órfão, com menos de um ano e pesando cerca de 300 kg,
adoptou a tartaruga centenária como mãe, e ela parece estar bem feliz no seu papel de mãe adoptiva.
Os dois nadam, comem e dormem juntos





Incompatibilidades? diferenças? cor de pele, de pelo, de carapaça, de espécie?

Haverá aqui alguma lição para nós, humanos?

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Última arma biológica


Não sei ao certo se ria ou....,
- ou o quê, maria?

- Olha, sei lá!

quem é que "gripou" primeiro?

O homem ,ou as galinhas?



sábado, dezembro 03, 2005

A arte de criar ilhas de quietude


Ao ler a citação, que transcrevo, pensei e penso sempre numa das "casas virtuais" que visito.
De facto, não uma, mas várias que esta
Obreira da Quietude edifica, fio a fio, e com ternura nos oferta.

« Ensina-me a arte de criar
ilhas de quietude,
onde eu possa absorver
a beleza das coisas
de todos os dias:
nuvens, árvores,
um trecho de música....»
*
*
Marion Stroud

*
*
É certo que também se encontra, ou eu a encontro, esta arte, noutras casas, mas não com a frequência, presença viva com que nelas-estas ocorre.

sexta-feira, dezembro 02, 2005

Palavras do contra


Estas são palavras do contra porque a nossa cultura ocidental chama, indiscriminadamente, preguiça, coisa má e feia, ao acto de parar, deixar de fazer algo que seja economicamente considerado útil.
Quando, parar é uma necessidade do ser humano.
Parar e absorver a beleza, respirar e religar-se ao mundo, à natureza.
Pessoalmente sempre "parei". Volta e meia páro. Se o não fizer afogo-me, morro sufocada.
Necessito sentir o vento, molhar-me na chuva e nela caminhar sem destino, olhar a lua e as estrelas, parar para ver o pôr-do-sol e o nascer.
Parar a ouvir o diálogo do mar, dos amantes, o riso das crianças, o sussuro das árvores..., o som da água correndo solta e ciciando encantamentos...Parar para me ouvir.

*
«O trabalho nem sempre é necessário ao homem. Existem coisas como a sagrada ociosidade, cuja cultura é, agora, perigosamente negligenciada.»
George MacDonald (1824-1905)
*
«Se fores capaz de passar uma tarde perfeitamente inútil de uma forma perfeitamente inútil, aprendeste a viver.»
Lin Yutang (1895- 1976)
*
P.S -Agora tenho estado meio parada, mas por razões de saude.Porque o meu corpo se queixa e recusa agir, até escrever ou ler. Não tarda estou bem. Obrigada pela vossa companhia. Navegar por aqui, neste universo de imagens, sons e letras é uma outra forma de parar. Um tempo só nossso. De leituras e cumplicidades.