domingo, abril 30, 2006

e as crianças


a partir de um post de oalcoviteiro
surgiu-me esta reflexão sobre as crianças no nosso mundo actual e tão bem organizado socialmente...

como animais
para matadouro
as crianças
passam
num mundo
que as ama por palavras,
pela retórica,
e as descura
pelas práticas.

sábado, abril 29, 2006

porque hoje me apeteceu e ela merece


nenhum sexto sentido colado aos rins. nem sequer a forma definitiva das coisas escuras e baças. vou saltar os efeitos. as cenas mágicas que a tua pele pronunciava.

despeço-me da calma somolenta que os teus seios promoveram sobre os meus numa invasão de ideias e sugestões. dos sobressaltos e do comboio que partiu sem termos dito adeus ou outro sinal de intimidade. vou inventar-te outra razão para o vento. outro passageiro do milagre das lágrimas.

descobri uma casa para ti. cheia de palavras enfeitiçadas. orgulhosamente de pé sobre as mimosas originais.
um domingo caseiro feito de mel e pau de canela. uma outra música com violinos de veneza e aquele fantasma que te encheu de abril os olhos tão azuis. (...)»

De I para mim, para todos que quiseram e querem.
De mim para I, com ternura.

N.B - por lapso não coloquei aspas no início do texto na imagem.
um dia continuo. qualquer dia em que o espaço peça para ser preenchido.


terça-feira, abril 25, 2006

Semeei


Nas mãos floriram cravos,
nos olhos floriram sorrisos,
nos corações, confiança.

Peregrina sem nome, fui para a rua,
e sempre encontrei uma mão estendida
para a minha....
para a tua
e nela sempre palpitou
e vibrou,
um povo, uma nação.


Porque o 25 de Abril de 1974 deve ser recuperado no seu melhor, mesmo que a recuperação se faça grão de areia a grão de areia, os direitos e liberdades não podem ser postergados para um limbo de inexistência e, por eles, por nós, pelo devir, devemos estar vigilantes e cívicamente actuantes.
Aprendamos a dizer: "NÃO"! Inequivocamente!
Na hora e momentos certos!

E a dizer: "SIM"!
Ambos, "sim e não", com clareza, energia, força e determinação que faça mover montanhas.


quinta-feira, abril 20, 2006

Ora aí está1 Selecção operativa imediata


Com a devida vénia à Helena/Etrusca k me fez chegar este cartoon bem disposto.

Boa 5ª feira para toda a gente.

segunda-feira, abril 17, 2006

eu vou! E tu? vemo-nos lá? Que bom...........


















O poeta Raúl de Carvalho
«Serenidade És Minha
À Memória de Fernando Pessoa
Vem, serenidade!
Vem cobrir a longa
fadiga dos homens,
este antigo desejo de nunca ser feliz
a não ser pela dupla humanidade das bocas.

Vem serenidade!
Faz com que os beijos cheguem à altura dos ombros
e com que os lábios cheguem à altura dos beijos.
Carrega para a cama dos desempregados
todas as coisas verdes, todas as coisas vis
fechadas no cofre das águas:
os corais, as anémonas, os monstros sublunares,
as algas, porque um fio de prata lhes enfeita os cabelos.

Vem serenidade,
com o país veloz e virginal das ondas,
com o martírio leve dos amantes sem Deus,
com o cheiro sensual das pernas no cinema,
com o vinho e as uvas e o frémito das virgens,
com o macio ventre das mulheres violadas,
com os filhos que os pais amaldiçoam,
com as lanternas postas à beira dos abismos,
e os segredos e os ninhos e o feno
e as procissões sem padre, sem anjos e, contudo,
com Deus molhando os olhos
e as esperanças dos pobres.

Vem, serenidade,
com a paz e a guerra
derrubar as selvagens
florestas do instinto.
Vem, e levanta
palácios na sombra.
Tem a paciência de quem deixa entre os lábios
um espaço absoluto.
Vem, e desponta,
oriunda dos mares,
orquídea fresca das noites vagabundas,
serena espécie de contentamento,
surpresa, plenitude.

Vem dos prédios sem almas e sem luzes,
dos números irreais de todas as semanas,
dos caixeiros sem cor e sem família,
das flores que rebentam nas mãos dos namorados,
dos bancos que os jardins afogam no silêncio,
das jarras que os marujos trazem sempre da China,
dos aventais vermelhos com que as mulheres esperam
a chegada da força e da vertigem.

Vem, serenidade,
e põe no peito sujo dos ladrões
a cruz dos crimes sem cadeia,
põe na boca dos pobres o pão que eles precisam,
põe nos olhos dos cegos a luz que lhes pertence.
Vem nos bicos dos pés para junto dos berços,
para junto das campas dos jovens que morreram,
para junto das artérias que servem
de campo para o trigo, de mar para os navios.

Vem, serenidade!
E do salgado bojo das tuas naus felizes
despeja a confiança,a grande confiança.
Grande como os teus braços,
grande serenidade!
E põe teus pés na terra,e deixa que outras vozes
se comovam contigo
no Outono, no Inverno,no Verão, na Primavera.

Vem, serenidade,
para que não se fale
nem de paz nem de guerra nem de Deus,
porque foi tudo junto
e guardado e levado
para a casa dos homens.

Vem, serenidade,
vem com a madrugada,
vem com os anjos de oiro que fugiram da Lua,
com as núvens que proíbem o céu,
vem com o nevoeiro.
Vem com as meretrizes que chamam da janela,
volume dos corpos saciados na cama,
as mil aparições do amor nas esquinas,
as dívidas que os pais nos pagam em segredo,
as costas que os marinheiros levantamquando arrastam o mar pelas ruas.

Vem serenidade,
e lembra-te de nós,
que te esperamos há séculos sempre no mesmo sítio,
um sítio aonde a morte tem todos os direitos.
Lembra-te da miséria dourada dos meus versos,
desta roupa de imagens que me cobre
corpo silencioso,
das noites que passei perseguindo uma estrela,
do hálito, da fome, da doença, do crime,
com que dou vida e morte
a mim próprio e aos outros.

Vem serenidade,
e acaba com o víciode plantar roseiras no duro chão dos dias,
vício de beber água
com o copo do vinho milagroso do sangue.

Vem, serenidade,
não apagues ainda
a lâmpada que forra
os cantos do meu quarto,
papel com que embrulho meus rios de aventura
em que vai navegando o futuro.

Vem, serenidade!
E pousa, mais serena que as mãos de minha Mãe,
mais húmida que a pele marítima do cais
,mais branca que o soluço, o silêncio, a origem,
mais livre que uma ave em seu voo,
mais branda que a grávida brandura do papel em que escrevo,
mais humana e alegre que o sorriso das noivas,
do que a voz dos amigos, do que o sol nas searas.
Vem serenidade,
para perto de mim e para nunca.… … ... … ... … … … … … … … … … … … … … … … … … …De manhã, quando as carroças de hortaliça
chiam por dentro da lisa e sonolenta
tarefa terminada,
quando um ramo de flores matinais
é uma ofensa ao nosso limitado horizonte,
quando os astros entregam ao carteiro surpreendido
mais um postal da esperança enigmática,
quando os tacões furados pelos relógios podres,
pelas tardes por trás das grades e dos muros,
pelas convencionais visitas aos enfermos,
formam, em densos ângulos de humano desespero,
uma núvem que aumenta a vâ periferia
que rodeia a cidade,
é então que eu peço como quem pede amor:
Vem serenidade!
Com a medalha, os gestos e os teus olhos azuis,
vem, serenidade!
Com as horas maiúsculas do cio,
com os músculos inchados da preguiça,
vem, serenidade!
Vem, com o perturbante mistério dos cabelos,
o riso que não é da boca nem dos dentes
mas que se espalha, inteiro,
num corpo alucinado de bandeira.

Vem serenidade,
antes que os passos da noite vigilante
arranquem as primeiras unhas da madrugada,
antes que as ruas cheias de corações de gás
se percam no fantástico cenário da cidade,
antes que, nos pés dormentes dos pedintes,
a cólera lhes acenda brasas nos cinco dedos,
a revolta semeie florestas de gritos
e a raiva vá partir as amarras diárias.

Vem, serenidade,l
eva-me num vagon de mercadorias,
num convés de algodão e borracha e madeira,
na hélice emigrante, na tábua azul dos peixes,n
a carnívora concha do sono.
Leva-me para longe
deste bíblico espaço,
desta confusão abúlica dos mitos,
deste enorme pulmão de silêncio e vergonha.
Longe das sentinelas de mármore
que exigem passaporte a quem passa.
A bordo, no porão,
conversando com velhos tripulantes descalços,
crianças criminosas fugidas à polícia,
moços contrabandistas, negociantes mouros,
emigrados políticos que vão
em busca da perdida liberdade.
Vem, serenidade
e leva-me contigo.
Com ciganos comendo amoras e limões,
e música de harmónio, e ciúme, e vinganças,e subindo nos ares o livre e musicalfacho rubro que une os seios da terra ao Sol.

Vem, serenidade!
Os comboios nos esperam.
Há famílias inteiras com o jantar na mesa,
aguardando que batam, que empurrem, que irrompam
pela porta levíssima,
e que a porta se abra e por ela se entornem
os frutos e a justiça.
Serenidade, eu rezo:
Acorda minha mãe quando ela dorme,
quando ela tem no rosto a solidão completa
de quem passou a noite perguntando por mim,
de quem perdeu de vista o meu destino.
Ajuda-me a cumprir a missão de poeta,
a confundir, numa só e lúcida claridade,
a palavra esquecida no coração do homem.
Vem serenidade
lve os vencidos,
regulariza o trânsito cardíaco dos sonhos
e dá-lhes nomes novos,
novos ventos, novos portos, novos pulsos.
E recorda comigo o barulho das ondas,
as mentiras da fé, os amigos medrosos,
os assombros da Índia imaginada,
o espanto aprendiz da nossa fala,
ainda nossa, ainda bela, ainda livre
destes montes altíssimos que tapam
as veias ao Oceano.

Vem, serenidade,
e faz que não fiquemos doentes, só de ver
que a beleza não nasce dia a dia na terra.
E reúne os pedaços dos espelhos partidos,
e não cedas demais ao vislumbre de vermosa nossa idade exacta
outra vez paralela ao percurso dos pássaros.
E dá asas ao peso
da melancolia,
e põe ordem no caos
sem carne nos espectros,
e ensina aos suicidas a volúpia do baile,
e enfeitiça os dois corpos quando eles se apertarem,
e não apagues nunca o fogo que os consome,
o impulso que os coloca, nus e iluminados,
no topo das montanhas, no extremo dos mastros,
na chaminé do sangue.

Serenidade, assiste
à multiplicação original do Mundo:
Um manto terníssimo de espuma,
um ninho de corais, de limos, de cabelos,
um universo de algas despidas e retrácteis,
um polvo de ternura deliciosa e fresca.
Vem, e compartilha
das mais simples paixões,
do jogo que jogamos sem parceiro,
dos humilhantes nós que a garganta irradia,
da suspeita violenta, do inesperado abrigo.

Vem, com teu frio de esquecimento,
com a tua alucinante e alucinada mão,
e põe, no religioso ofício do poema,
a alegria, a fé, os milagres, a luz!

Vem, e defende-me
da traição dos encontros,
do engano na presença de Aquele
cuja palavra é silêncio,
cujo corpo é de ar,
cujo amor é de
mais
absoluto e eterno
para ser meu, que o amo.
Para sempre irreal,
para sempre obscena,
para sempre inocente
Serenidade, és minha.»

sexta-feira, abril 14, 2006

Sociedade do conhecimento

Clica para aumentar!
Não o...conhecimento, mas tão só a....imagem.

quarta-feira, abril 12, 2006

Um olhar com humor


Eis uma das consequências mais imediatas do aquecimento global do planeta.

sábado, abril 08, 2006

POIS se me perco que me fica?



POIS se me perco que me fica?
Quem deixa que adormeça uma só vez
o coração (o meu) com a destreza
de quem sabe?
Quem habita esta casa? e o chão
desfeito? e o limbo da saudade?
Quem dorme no que dorme?
Quem segue a trajectória e o advento
dos que ao longe cantam
dos que ao longe voam em velozes galos?
Quem ama a vastidão (e a corrosão)
do que acontece?
Quem pesquisa e percorre e dilacera
o vento que não pára?
Quem silêncio impõe
à vã premência?
Quem rumina a noite e é aquela ave
que atravessa o inóspito dos dias
contornando o círculo das árvores?

(João Rui de Sousa)


P.S - não deixem de passar no ORGIA.
Não (só) porque escrevo lá aos sábados, mas porque todos os outros que lá escrevem o fazem muito bem.

sexta-feira, abril 07, 2006

terça-feira, abril 04, 2006

domingo, abril 02, 2006

continuemos a...alentejanar brincando





E façam o favor de não levar a mal porque sou alentejana (com A maiúsculo) de alma, coração, sangue, célulazinhas cizentas, ossos e tudo o resto que compõe a totalidade deste "EU".