No café, na mesa atrás de mim,. duas mulheres falavam. Impossivel não ouvir dada a proximidade entre mesas. Um segmento da conversa colou-se-me. Impôs-se ao meu pensamento. Deixou-me a reflectir.
Dizia uma, em tom afirmativo e simultaneamente inquisitivo, para a outra: «Ele tem ciúmes! É porque gosta de mim, não é....???»
E havia uma tal fragilidade na voz, uma estranha mistura de certeza e dúvida, esperando, quase exigindo confirmação, que quase me levou a falar-lhe. A dizer-lhe que NÃO! Que ciume não é, nunca foi, nunca será prova de gostar. Prova de amor.
Pode ser prova de muita coisa, mas o sentido é inverso. Não o que a voz do povo, sob a forma de ditado popular, lhe atribui e propaga. Não aquele que ela deseja e espera ver confirmado pelas palavras e pelo olhar da interlocutora.
Ciúme é prova de insegurança. É prova de necessidade de controlo. É prova de posse - e coisa mais contrária ao amar e sua natureza não existe. Pode ser prova, sintoma de doença.... .................... pode ser tanta coisa e todas tão negativas, tão contrárias à essência do gostar, do amar.....
Pode ser mero logro para convencer, usando a vox populli, de que se gosta, se ama.
66 anos, portuguesa. E-mail: Tostimara@gmail.com
Escritora com cinco títulos individuais publicados e vários colectivos - prosa e poesia.
Curriculum como colaboradora em jornais e revistas como escritora e como cronista. Bom domínio de inglês e francês. Compreensão de italiano e castelhano.