sexta-feira, fevereiro 03, 2006

A madrugada apanhou-me....

A madrugada apanhou-me desprevenida.
De olhos abertos, fixando a abóbada celeste.
A luz dos candeeiros da rua ofuscava o brilho das estrelas, mas ainda assim conseguia ver muitas e vi-as rodar à medida que a noite avançou.
Posteriormente vi-as, como que diluírem-se no azul com o avançar da madrugada.
O curioso é que não tinha nada específico para fazer.

Não estou a ler nenhum daqueles livros que se lêem de fôlego, sem parar.
Nenhuma outra tarefa me impunha uma "directa".
Nada de nada (conscientemente) me obrigava a manter a vigília.
Estava acordada porque sim!
Os pensamentos não me eram mais pesados do que habitualmente (talvez a tragédia - densa palavra - seja o dia a dia ser um fardo tão grande).
Era tudo e era nada: os problemas, as tristezas, as ausências..., mas também um certo bem-estar por estar viva num planeta tão belo.
O que mais dói é este amor perdido, sem razão, sem razões.
Há muito perdido e ainda tão presente.
O outro, sentido como uma parte de mim que se foi.
Tanta água já correu por debaixo destas pontes....Tanta mais correrá e nós sem de nós sabermos.
Porque foi que nos perdemos um do outro no caminhar?
Como se um fosse pela bifurcação da direita e o outro, pela da esquerda.
Parecia caminharmos a par... Ilusão!
Súbita e dolorosa a percepção de que nos afastáramos irremediavelmente, que a comunicação era toda deturpada, que os interesses e a percepção do mundo nos antagonizavam. Para além do imaginável.
Perdemo-nos.
Fomos encontrando bocados de nós e com eles reconstruindo novos seres, que continuam vivos e criaram novas vidas.
Não é saudosismo. Nem sei o que isso é.
Nunca passei nesse quintal!

É um pouco como a consciência de algo perfeito que se teve, viveu e se perdeu!