sexta-feira, março 10, 2006

Está de pé sobre as brancas dunas



No passado dia 8 a Lena deixou-me este belo poema que hoje partilho convosco.
Obrigada Lena,


Está de pé sobre as brancas dunas. As ondas
conduziram-na
e os ventos empurraram-na. Está ali, na perfeição
redonda
da oferenda. E como que adormece no esplendor
sereno.
Diz luz porque diz agora e és tu e sou eu, num círculo
só. Está embriagada de ar como uma forte lâmpada.
É uma área de equilíbrio. de movimentos flexíveis.
um repouso incendiado, a vitória de uma pedra.
Abrem-se fundas águas e um novo fogo aparece.
Que lentas são as folhas largas e as areias!
Que denso é este corpo, esta lua de argila!
Nua como uma pedra ardente, mais do que uma
promessa
fulgurante, a amorosa presença de uma mulher feliz.
Nela dormem os pássaros, dormem os nomes puros.
Agora crepita a noite, as línguas que circulam.
Crescem, crescem os músculos da mais íntima
distância.

António Ramos Rosa