quarta-feira, janeiro 28, 2009

"o dom –III" e "o casamento"

ao princípio julguei-me louca tão escaganifobética era a miscelânea de pensamentos, e o ruidoso salsifré que, contra o meu querer, me enchia o cérebro perturbando-me. deixando-me perdida. à deriva naquele turbilhão. olhando para trás nem sei situar esse “princípio” em termos temporais tão prematuro foi.
um dia acordei com um novo e autêntico sentir relativamente ao singular fenómeno que me enchia de estranhas vozes e alheios pensamentos. com paixão e suprema força de vontade entreguei-me ao estudo de um fenómeno que muitos consideravam mito. fábula. mas que, para mim, infelizmente era bem real.
um raciocínio e um sentimento límpido diziam-me não estar louca e ser tudo real. nem mito, nem fábula.
aos poucos confiei na vida e em mim. aprendi a controlar as entradas criando bloqueios de protecção e então sim senti-me bem viva e o renascer da alegria de viver e a gratidão por esta dádiva aconteceram.
~~~~~" " ~~~~~
o casamento
um autêntico, supremo, poderoso mas límpido salsifré irrompeu na Igreja quando os noivos disseram “sim, querer casar e, depois da autorização do ministro, se beijaram com singular e intensa paixão.
ambos sentiam e viviam a sua união como um renascer. não um vínculo limitativo, cadeia, prisão, ou algemas como metaforicamente era dito e simbolizado pelas alianças.
um sentimento novo possuíra-os desde o momento em que se encontraram e os olhos se quedaram, sem deriva, fitando o outro. acariciando-o numa saudade feroz, de séculos. que nunca mitigavam.
não era um conto de fadas, nem eles personagens de uma qualquer bula. para muitos era uma relação estranha. Bizarra. até de escaganifobética a designavam por fugir aos padrões sociais vigentes.
~~~~~~" " ~~~~~~
Para ler os textos de todos os participantes passem no Eremitério.

quarta-feira, janeiro 21, 2009

O Acidente (2ª e última parte)


Ficámos sós. Meus pais e eu. Não temos mais família, meus pais já não são novos porque fui um filho tardio. Nasci, tinham ambos 43 anos. Já lá vão vinte e dois, façam as contas que são simples.
Neste momento meus pais têm sessenta e cinco anos, sendo meu pai mais novo, do que minha mãe, cinco meses e três semanas.

Esta não é, nem de perto nem de longe, a vida que para mim desenhara e cujo caminho prosseguia. É certo que posso acabar o curso de advocacia, estava no 3º ano quando o acidente ocorreu, era o melhor aluno do meu curso e todos me auguravam um futuro brilhante.
Eu, é que não sei se o quero.

Praticava surf, corrida de obstáculos e iniciara-me no alpinismo.
Fui sempre muito independente. Apesar de filho único e tardio meus pais não me prenderam nem na dobra da calça de um, nem na barra da saia de outra. Incentivaram a minha autonomia e independência.
Amo a vida, amo meus pais e posso dizer que sempre gostei de mim, nunca estive de mal com a vida, mas neste momento pondero, como séria hipótese, a questão da eutanásia.
A saúde de meus pais não é brilhante, o corpo morto que é agora o meu, pesa excessivamente no de minha mãe que me lava, muda e faz tudo o que necessário é para a minha higiene e conforto.

Meu pai, que sonhava deixar o emprego e dedicar-se a alguns dos seus hobbies criativos para os quais nunca tivera muito tempo, viu-se obrigado a continuar e a arranjar mais um part-time para que nada me falte.
Fazem tudo com boa disposição, bonomia, até alegria e prazer por me puderem ser úteis e minorar o mal que foi feito.
Sei que sofrem pelo meu estado, mas o seu amor é maior do que tudo.
E porque o meu por eles também o é tenho que avaliar e bem, de cabeça fria, as condições de sobrevivência com dignidade sem os sobrecarregar e equacionar a minha vida à medida do seu envelhecimento e após a sua morte.

Por termo à vida é uma decisão que pode vir a revelar-se como necessária.

quinta-feira, janeiro 15, 2009

O Acidente (1ª parte)




Posted by Picasa

O sol entra pela janela do quarto e bate na cama, por vezes no meu rosto, dependendo da estação do ano e da rotação da terra.

A cama é articulada, permite que a coloquem em várias posições, desde as que me facilitam a leitura, às que me permitem, como agora, escrever no computador portátil que almas generosas, via um programa televisivo, que nunca vejo, me ofereceram.
Podem ainda fazer vários conjuntos de posições, levantando ou baixando, mais ou menos, uma das três partes articuladas que a compõem, de forma a dar-me o máximo conforto.
Nesse capítulo não tenho que me queixar.
Tirando o facto de ter ficado paralisado, de só mover o pescoço e os membros superiores, de ter perdido a juventude e os sonhos que a alimentavam e forjavam, não há nada de que me possa queixar.

Até o imbecil que se embriagou e insistiu em conduzir, contra a opinião dos amigos, veio rojar-se aos meus pés, e não falo figurativamente, pedindo perdão, desejando dedicar o resto da vida a cuidar de mim, a transportar-me para onde quisesse, a passear-me pela cidade ,...
Um sem número de coisas que estava disposto a fazer para que o perdoasse e pudesse assim redimir-se do seu grave crime.

É claro que rejeitei toda e qualquer oferta.
Não por raiva ou ódio.
Ao vê-lo ali, a meus pés, numa tal aflição perdoei-lhe o ter-me atropelado, o ter-me roubado a vida que projectava, a normalidade desejada só quando se perde apercebida.
Perdoei-lhe, é verdade, mas também o fiz por mim.
Se calhar mais por mim do que por ele.
A sua presença constante, com as lágrimas sempre a irromperem, a culpa a pesar-lhe mesmo depois de perdoado o crime e a interpor-se entre nós, feita presença, fazia-me mal, reacendia em mim uma zanga que longe dele, ou na sua ausência não existia.
Libertei-o de todos os encargos que comigo queria assumir, de todas as responsabilidades que implicassem a sua presença. Dispensei-o, ao fim e ao resto ...,
Disse-lhe que seguisse a sua vida e me deixasse seguir com a minha, lembro-me, quando lhe fiz esta afirmação, ouvir dentro de mim um riso escarninho..., sem ter que o ver permanentemente.
A culpa estampada no rosto, atitudes e gestos.

domingo, janeiro 04, 2009

Apresentação da reedição de 2 Obras do escritor António Rebordão Navarro

Amizades conto convosco para confraternizarmos no dia 8 do corrente, pelas 21H30 no Hotel Alvorada, Estoril (abaixo a planta com localização do Hotel)

em torno de duas obras - o 1º romance por ele escrito, "ROMAGEM A CRETA" e o livro de poesia "27 POEMAS" - deste autor, agora reeditadas pela EDIUM EDITORES.

A vossa presença é indispensável bem como o vosso empenho na divulgação porque há bons autores - como António Rebordão Navarro - esquecidos.

Porque será?

Vejo-nos lá e faremos uma festa maior em torno das palavras do autor.